No dia 28 de março, ocorreu o 7° encontro da formação de lideranças realizado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, na sede do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR). O espaço é localizado embaixo do Viaduto Pedroso, Bela Vista, São Paulo. A formação acontece todas as terças-feiras, das 9h às 11h, até o mês de abril (11).
O estigma acerca das pessoas negras, da população LGBT e das mulheres em situação de rua dificulta o acesso a espaços públicos e privados. Considerando esses recortes, é possível afirmar que, aqui, o risco à integridade física e psicológica desses indivíduos, o racismo, homofobia e machismo são potencializados.
O paradigma precisa ser quebrado e os serviços socioassistenciais e de Defesa à Pessoa Humana precisam repensar a igualdade de uma forma que possa acolher as necessidades e gerar inclusão social.
Rosiene Silvério, assessora da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, acredita que o preconceito advém de uma questão ideológica e ultrapassada. "É necessário no nosso trabalho, na área social, uma quebra de paradigmas constante. Nós enfrentamos isso em todos os setores - religioso, social - , com a população em situação de rua, com os LGBTS, com as mulheres. São muitas as situações excludentes por aspectos que não deveriam mais existir. Que a gente achava ter superado. Então é um trabalho que eu penso que seja cultural, educacional e muito também de conscientização", afirma.
A sociedade aponta o problema na pessoa em situação de risco reverberando bordões que colocam essa população à margem. A população de rua é sempre vista como pedinte ou "vagabunda", os negros são automaticamente considerados "suspeitos" pelo senso comum, o estigma da prostituição, doenças e preconceitos religiosos cercam a população LGBT e a para as mulheres resta apenas o papel de "Bela, recatada e do lar".
Sendo assim, a sociedade se livra da culpa e se abstém de uma análise interna e um olhar aprofundado para os próprios preconceitos. E como conseqüência, isenta o Estado pela parcela que lhe cabe diante de toda a desigualdade social.
Jeferson Santos Pinto é estudante de psicologia e trabalha no núcleo de Defesa e Diversidade e Igualdade Racial da Defensoria Pública do Estado. Ele analisa que a ausência de recortes raciais no que se refere à população em situação de rua acarreta ainda mais na invisibilização dessas pessoas. "É curioso que essa situação de discriminação social existe quando nós, por exemplo, analisamos o fato que aconteceu em Curitiba do "Mendigo Gato". Quando tem uma pessoa branca de cabelos loiros e olhos claros na rua, existe uma comoção nacional que diz que a rua não é o lugar dela. Existe uma mobilização para tirar aquela pessoa (branca) daquele lugar. Enquanto a pessoa negra em situação de rua é como se fosse um objeto que fizesse parte daquele lugar, é como se a sociedade dissesse que ali é o lugar dela e ali ela continua invizibilizada. Eu acho que os estudos devem ser dirigidos tanto pra essa questão e também analisar como as pessoas brancas se 'racializam' dentro desse debate pra perceber o negro como uma pessoa e também saber identificar seus privilégios", considera.