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História contada e relatada

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11 medalhas de ouro, 1 de prata
11 medalhas de prata, 1 de ouro
     Anos atrás...
     Depois de uma noite bem dormida ali na Praça Clovis – dormir ali era bom demais, tinha um quartel da PM -, era muita tranquilidade e paz.
     Ali era o início da Rua do Carmo, seguindo à esquerda e reto sai na baixada do Glicério, mas não vem ao caso.
     Me levantei oito e meia da manhã, entrei no Poupa Tempo, lavei meu rosto ali. Todos os dias de segunda a sábado, vem uma comunidade trazer um café às oito horas. Tomei meu café com leite e um pão com manteiga.
     Eu já tinha um destino, ia até a Santa Cecília para tomar um banho e trocar de roupa, pois já estava mecânico meu sapato, já estava furado e sem aquele cheiro agradável.
     Não tinha outra alternativa. Era só tomar banho e trocar de roupa mesmo. Numa sexta feira era dia de doação de roupas e calçados e tomar banho. Não posso afirmar que ainda tem essa comunidade por lá, naqueles locais foram muitas mudanças, acabaram muitas coisas por lá, agora tem um terminal de ônibus.
     Atravessei a Praça da Sé, ali uma imensidão de pessoas que, assim como eu, estavam em situação de rua. Segui pela rua direito, no início da Praça Patriarca, bati de frente com eu não sei ao certo como se diz “estátua de busto de um grande homem da história do Brasil”, José Bonifácio de Andrade da Silva.
     Seguindo o meu caminho um pouco mais à frente, na Rua Líbero Badaró, ali se situam os dois, ou um dos dois mais altos prédios de São Paulo. O “Tom Palace Hotel” e o prédio que antes era o Banco Banespa e agora é a Prefeitura Municipal de São Paulo.
     Atravessei o Viaduto do Chá, mais dois destaques à frente. À esquerda, o antigo prédio da Santa Casa de Misericórdia, à direita, o antiguíssimo Teatro Municipal. Passando por ali, o que vem à mente são as grandes atrações nacionais e internacionais que já se foram e deixaram suas marcas, ali são tantas que nem dá para lembrar.
     A próxima travessa é a Conselheiro Crispiano, a seguir a Barão de Itapetininga, que foi onde aconteceu, e foi o motivo por que eu estou aqui escrevendo.
     No número 100 desta rua, tinha uma loja – não tem mais -, que só vendia televisões. Acho que, na época, estava saindo o plasma 42 polegadas, eram vários os tipos, estavam todas ligadas no mesmo filme: “História das Olimpíadas”, destacando o atletismo que estava sendo contado por um atleta olímpico francês.
     Ele participou das Olimpíadas de 1932, 1936, 1940 e 1944. Foram onze medalhas de prata e uma de ouro. O nome desse atleta sinceramente não sei, mas o personagem principal da sua história era um dos principais frentistas da história do atletismo do mundo ou do planeta.
     “Emil Satopek”, natural de Praga, capital da Tchecoslováquia, onze medalhas de ouro e uma de prata. Ele contava que cada país mandava dois atletas para as Olimpíadas, que tinham que correr os 5 mil, os 10 mil metros e a maratona.
     A primeira corrida dos dois foi em Londres. “Zatopek”, ouro nos 5 mil, 10 mil e maratona. Ele, o francês, prata nos três respectivamente.
     Quatro anos depois foram se encontrar na Alemanha, em Berlim, e segundo ele, de novo, “Zatopek” 3 ouros, 5 mil, 10 mil e maratona. O francês, 3 pratas de novo.
     Em Paris, quatro anos depois, ele, que disse sempre estar preparado, mas não teve jeito. Apesar de estar dentro de casa, foi aí que se criou uma grande amizade de dois grandes mitos do atletismo mundial.
     As próximas Olimpíadas seriam em Helsink, na Finlândia. Amigos inseparáveis, os outros atletas disputavam apenas o 3° lugar, que era o bronze. O ouro e a prata já tinham seus respectivos donos.
    Só que o inesperado aconteceu. Na Finlândia, os dois treinavam juntos, pois eram amigos inseparáveis de outras Olimpíadas.
      Foi prata nos 5 e 10 mil metros, e oito dias depois veio a maratona.
     Foi dada a largada. As ruas de Helsink estavam lotadas, estava um dia ensolarado, de céu azul, segundo ele falava não era clima típico daquela região da Europa.
     Estava fazendo a minha corrida forte quando levantei a cabeça no km 39, a uns 60 metros vi o batedor do exército que era quem puxava a prova, não entendi nada e fui pra cima, encontrei Zatopek. Ele falou: “vai que o ouro é seu”.
     Ao entrar no estádio olímpico, gritavam “Emil, Emil, Emil!!”. Eu ganhei a maratona. Para minha surpresa e para surpresa geral, assim que anunciaram a entrada dele no estádio, foi aplaudido de pé por todos, assim que chegou na linha de chegada em segundo se dirigiu na minha direção e disse: “Você mereceu. Não é o que você queria?”
     Emocionados nos abraçamos.
     Em 1945, Emil Zatopek correu a Corrida Internacional de São Silvestre, e, é claro, venceu. O francês foi convidado mas estava contundido e não veio, segundo ele.
     Aí eu segui até a Santa Cecília, tomei banho, troquei de roupa. Sapato novo, após relatar uma linda história.
*Aluno do curso "Comunicando a Rua"

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